Já tivemos ocasião de referir a viagem de Diogo de Teive no Atlântico em busca da ilha das Sete Cidades. Diogo de Teive era um madeirense muito conhecido, escudeiro do Infante, a quem este, em 1452, ordenara que construísse o primeiro engenho de açúcar naquela ilha (96). Jaime Cortesão crê que Diogo de Teive terá descoberto o Grande Banco da Terra Nova. Mas, para fazer chegar aí o navegador, teve de tomar como um "erro de texto" o rumo descrito por Las Casas e Ferdinand Columbus e alterá-lo para NW. Por sua vez, S. E. Morison, chama a atenção para que desviando assim o rumo dos navegadores em noventa graus, estes teriam assim chegado à Irlanda em vez da Terra Nova.
O próprio Cristóvão Colombo teria sido muito influenciado por estas navegações atlânticas. Pedro de Velasco é referido como despachante voluntário a favor de Colombo nos "pleitos" do processo que a coroa de Castela levantou contra Colombo, em 1515. Um certo Valiente, declarou em 1492, que quando Colombo tentava contratar uma tripulação para a sua primeira viagem em Palos, um "Perro Vasques de la Frontera que uma vez havia saído para fazer a dita descoberta aconselhou o dito Colombo e Martin Alonso Pinzon, e encorajou as pessoas, e disse a todos em público que fossem nesta viagem, porque encontrariam uma terra muito rica... e disse isto, naquela altura, nos lugares públicos (97)
Las Casas conta ainda na sua "Historia de las Indias" uma outra história do mesmo teor: "Um terceiro marinheiro contou ao dito Cristóvão Colombo, estacionado no porto de Santa Maria, que numa viagem que fizera para a Irlanda, viu aquela terra que os outros criam ter visto, e imaginaram que era a Tartária, que fazia um prolongamento para Oeste; e eu tenho por certo que era aquela terra a que nós chamamos agora de los Bacallaos, que eles não podiam alcançar por causa dos ventos terríveis. (98)
No mesmo capítulo da sua obra monumental, Las Casas conta ainda que um piloto português, de nome Vicente Dias, avistou uma ilha no caminho da Madeira para os Açores, e, depois, procurou-a em vão, na companhia de um certo Lucas Cazana, cujo irmão teria contado esta história a Colombo; afirma também que Gaspar e Miguel Corte-Real se perderam na busca esta ilha. Assim sendo, essa ilha tratar-se-ia, afinal, da Terra Nova.
Em 1593, o rei de Portugal emitiu uma doação ao capitão da ilha de São Miguel, fazendo sua uma "nova ilha que aparece as vezes, vista de São Miguel", se ele a conseguir encontrar (100).
A 19 de Fevereiro de 1462, o rei outorgou a João Vogado as duas ilhas que "de acordo com a carta maritima se chamam, respectivamente Lovo e Capraria", (102) Tratam-se de duas ilhas que surgem frequentemente associadas a ilha de São Brandão e que aparecem em quase todos os mapas do século XV.
A 29 de Outubro de 1462, o rei outorgou ao seu irmão Dom Fernando uma ilha que Gonçalo Fernandes avistara a WNW das Canárias e da Madeira, no regresso da pesca no rio do Ouro, em África (103).
Outra doação refere que D. Fernando tinha procurado a dita ilha, "que aparece em frente a ilha de S. Tiago", em Cabo Verde, nunca a tendo conseguir achar. O monarca, devido a estes insucessos, atribui a dita ilha a sua irmã Dona Brites, mulher do duque de Viseu (104).
A 21 de Junho de 1473, o rei doou a Ruy Gonçalves da Câmara, pelos seus bons servicos em África, "huma ilha que elle perssy ou seos navyos achar" (105). A 28 de Janeiro de 1474, concedeu a Fernão Gonçalves quaiquer ilhas "que elle achar ou aquelle a que as elle mandar buscar novamente e escolher pera as aver de mandar povoar" (106), desde que não ficassem na região da Guiné.
Em 1484, o rei recusou apoiar um madeirense que lhe solicitava o empréstimo de uma caravela "para ir explorar um determinada terra que, jurava ele, via todos os anos e sempre do mesmo modo" (113). Apesar desta recusa, no mesmo ano, viria a emitir carta de doação a outro madeirense, outorgando-lhe a capitania de "uma ilha que ele estava para encontrar", ao que parece financiando ele próprio a viagem, o que teria motivado a aceitação real.
As viagens de Gaspar e Miguel Corte-Real a América em 1500-1502 estão relatadas nas crónicas portuguesas e amplamente autenticadas. Somente a viagem de seu pai, João Vaz, também à Terra Nova, por volta de 1472, se fundamente unicamente nas afirmações de Gaspar Frutuoso (1522-1591). Este autor na sua "Saudades da Terra", conta que João Vaz Corte-Real recebeu do rei mandato do "descobrimento da Terra Nova dos Bacalhaus", descobrindo-a efectivamente na companhia de Álvaro Martins Homem, sendo recompensado com a capitania-donataria de Angra, na ilha Terceira (107). Esta história é contada na "História dos Açores" de António Cordeiro, obra editada no século XVIII. Ernesto do Canto e Henry Harrisse estudaram-na, concluindo o primeiro pela sua pouca fiabilidade, o segundo, admitindo-a como verdadeira. Mas vejamos o texto de Frutuoso: "pelos serviços prestados ao Rei de Portugal nas guerras contra Castela, saindo como capitão de grandes armadas; do qual diziam ser tão grande aventureiro no mar, que este reino não tinha segundo; e alguns dizem que ele descobriu a mesma ilha da Terceira e algumas partes do Ocidente e do Brasil." (108). S. E. Morison, contudo, pôs em questão estas frases de Frutuoso, afirma este autor: "Considerando que a Terceira e Cabo Verde foram descobertas muito antes do tempo de Corte-Real, e o Brasil depois da sua morte, e que os anais de Portugal estão completamente em branco quanto a estes valorosos feitos à custa dos Castelhanos".
Sofus Larsen (109) defende longa e arduamente a tese da chegada de João Vaz à Terra Nova em 1472. Após uma introdução onde mostra as boas relações existentes entre Portugal e a Dinamarca, durante o reinado de D. Afonso V, passa a expôr a sua teoria: Baseando-se numa carta de 3 de Março de 1551, escrita por Carsten Grip, mercador e burgomestre de Kial, ao rei Cristiano III da Dinamarca, nesta carta o mercador comenta um mapa que fôra posto à venda por um livreiro de Paris: "Lá se anota que a Islândia tem o dobro do tamanho da Sicilia e que os dois pequenos barcos "Pyninl" e "Poidhorsth", que o avô de vossa real majestade Rei Cristiano I enviou, a pedido do Rei de Portugal, com vários barcos, em busca de novas ilhas e terras a Norte, colocaram uma enorme bóia de frente para Sniefielssiekel, na Islândia, a fim de avisar as pessoas contra os piratas da Groenlândia, que atacam, em grande número com os seus muitos barcos sem quilhas" (110). A expedição de Pining e Pothorst é bem conhecida, sendo datada de entre 1473 a 1481, tendo gravado uma bússola na ilha Hviserk ao largo da costa e por terem combatido os Esquimós (111). Larsen, deduz que João Vaz Corte-Real teria sido enviado por D. Afonso V para tomar parte dessa expedição. Existem ainda, para além desta carta, dois outros factos, que Lansen crê provarem uma expedição de João Vaz Corte-Real à Terra Nova. O primeiro trata-se do globo de Gemma Frisius, datado de 1537, conservado no museu de Zerst, que mostra a Groenlândia como uma península descendo do continente ártico ligado a Ásia. Entre este continente ártico e o Canadá fica um estreito com a seguinte legenda: "Fretum trium fratrum, per quod Lusitani ad Orientem et ad Moluccas nauigare e conati sunt" (Estreito dos Três Irmãos, através do qual os Portugueses tentaram navegar para Oriente às Indias e até às Molucas) (112). Um segundo facto é usado por Larsen para defender a realidade da viagem de João Vaz Corte-Real. Trata-se de aparição nos mapas do atlas manuscrito do português João Vaz Dourado, da segunda metade do século XVI, se encontrarem, numa extensão das costas norte e leste da Terra Nova, os topónimos Baía de João Vaz e Terra de João Vaz que, segundo Larsen, serão a prova decisiva de que João Vaz Corte-Real as descobriu. Por outro lado, nos mesmos mapas surge uma baía de Manuel Pinheiro, outro nome português, mas este absolutamente ignorado e desconhecido em todas as fontes que conhecemos.
No capítulo ii do "Esmeraldo", Duarte Pacheco Pereira escreve o seguinte: "hanno de nosso senhor de mil quatrocentos e noventa e oito, donde nos vossa alteza mandou descobrir ha parte oucidental, passando além ha grandeza do mar oceano, onde he hachada e navegada hua tam grande terra firme, com muitas e grandes ilhas ajacentes a ella (...) he grandemente pouorada". Segundo o texto, em 1498, Pacheco Pereira teria reconhecido a zona das Caraíbas, tendo desembarcado pelo menos uma vez. A certeza de se tratar de um continente significa que Pacheco Pereira percorreu um largo segmento de costa.