NAVEGAÇÕES FENÍCIAS NO ATLÂNTICO

Não discutiremos as motivações geopolíticas e económicas que levaram o farao Necao II a decidir tentar a ligação entre os dois mares, o Mediterrâneo e o Vermelho, que transportavam a maioria do comércio para o seu país, mas foi para estudar a viabilidade dessa ligação essa ligação foram contratadas tripulações fenícias. Herodoto, nas suas "Histórias", IV, 42, dá-nos a conhecer estes acontecimentos: "não há dúvida de que a Libia, excepto na parte que confina com a Ásia, é circundada pelo mar. O primeiro a demonstrá-lo, tanto quanto consta, foi Necao, rei do Egipto. O qual, depois de ter deixado de escavar o canal do Nilo ao golfo Arábico, mandou marinheiros fenícios a bordo de navios mercantes, com o encargo de regressarem pelas Colunas de Hércules, até chegarem ao mar do Setentrião e ao Egipto. E os Fenícios partiram do mar Vermelho e percorreram o Mar do Meio Dia. Chegado o Outono ancoravam, semeavam a terra nos pontos da Libia onde a sua navegação havia chegado, e esperavam pela colheita. Faziam a colheita do grão e tornavam a partir. Passaram-se dois anos e no terceiro, dobraram as Colunas de Hércules e chegaram ao Egipto. E diziam uma coisa na qual eu, por mim, não acredito, mas outros, talvez sim: isto é, terem visto, durante a circum-navegação da Libia, o Sol à sua direita."

FENÍCIOS NO BRASIL

É famosa a chamada "Inscrição da Paraíba", do nome do seu lugar de origem. O primeiro a dar a notícia da sua existência foi, em 1864, o estudioso brasileiro Ladislau de Souza Mello Netto, que se baseou num desenho enviado, dois anos antes, ao Museu do Rio de Janeiro, por um tal Joaquim Alves da Costa. Ninguém, nem mesmo Ladislau Netto, viu, alguma vez, o original. Esquecida durante anos, a inscrição foi trazida para a ribalta, em 1968, pelo americano Cyrus H. Gordon, que a voltou a analisar, afirmando peremptoriamente a sua autenticidade.

É este o texto da inscrição: "Nós somos filhos de Canaan de Sidon, a cidade do rei. O comércio atirou-nos a esta praia distante. Sacrificámos um jovem aos deuses e as deusas, no ano décimo nono de Hirão, nosso rei poderoso. Partimos de Eziongeber no mar Vermelho e viajámos com dez navios. Mantivemo-nos juntos no mar durante dois anos, a volta da Terra de Cam (África), mas a tempestade separou-nos e nunca mais nos encontramos com os nossos companheiros. Assim, viemos ter aqui, doze homens e três mulheres, a uma praia que eu, o almirante, governo. Possam os deuses e as deusas favorecer-nos!"

Cyrus H. Gordon acreditava existirem neste texto particulariedades linguísticas que não podiam ser conhecidas por um falsário em 1872 uma vez que só mais tarde se tornaram do conhecimento dos estudiosos.

Ladislau Netto divulgou a inscrição em 1874. O parecer de uma das maiores autoridades da época, Ernest Renan foi, assim que dela teve conhecimento, absolutamente negativo, classificando-a categoricamente como falsa. Em resposta, Netto, escreve a Renan, em 1885, uma carta aberta. Nesta revela que sempre teve dúvidas sobre o caso, e que teve se interessar pelo problema devido a pressões de D. Pedro II, admirador das culturas clássicas e pré-clássicas e estudioso das línguas semitas. Não tendo conseguido identificar o remetente da carta nem a propriedade de Pousio Alto onde a inscrição fora achada, Netto escreve a cinco pessoas: quatro estrangeiros e um brasileiro, que considera capazes de fabricar a inscrição fenícia.

Na resposta de um deles julga ter encontrado a caligrafia do misterioso Joaquim Alves da Costa; escreve-lhe uma segunda vez e a carta de resposta não lhe deixa nenhuma dúvida, crê ter identificado o falsário, mas nunca chegaria a revelar o seu verdadeiro nome, porquê? Segundo Geraldo Ireneo Joffily, as referências ao soberano tornam-no na principal suspeita, tanto mais porque era precisamente um dos maiores especialistas brasileiros no assunto.

UM BÉTILO CARTAGINÊS NA IRLANDA ?

Um bétilo cartaginês, de imprecisa proveniência, conservado em St. Joneeston, na foz do Foyle, na costa oriental da Irlanda. Este bétilo foi primeiramente publicado pelo reverendo O. Davies no "Journal of Royal Society of Antiquaries of Ireland", 83, 1953.

ACHADO ARQUEOLÓGICO FENÍCIO NA CIDADE DO CABO ?

C. Finzi, na sua obra "Nos Confins do Mundo" refere que no século passado, perto da Cidade do Cabo, teria sido achado um vestígio arqueológico fenício, não dá, contudo, grande fundamento a notícia. Como esta foi a única referência que até agora descobrimos fazemos menção a esta descoberta com a maior das reservas.

NAVIOS GADITANOS NA ÁFRICA ORIENTAL, A HISTÓRIA DE EUDOXIO

Estrabão, na "Geografia", II, 3, 4-5, baseando-se na "Corografia" de Pomponio Mela", III, 9 e em Cornelio Nepos (referido por Plinio, "História Natural", II, 67), descreve a história de Eudoxio, um grego de Cizico, na Ásia Menor, que depois se terá mudado para o Egipto. Daqui terá partido, por duas vezes, para a Índia. Seria no regresso da segunda viagem que foi arrastado pelos ventos e arremessado para as costas da África Oriental.

Cedo aprendeu a língua dos indígenas e começou a explorar o litoral desse país para onde o destino o atirara. Seria no decorrer dessas viagens que descobriria algo que a partir de então nortearia a sua vida: um pedaço de madeira esculpido com uma cabeça de cavalo, ou seja, um beque (extremidade superior de uma proa). Eudoxio te-lo-á levado para o Egipto. Aqui, capitães experimentados disseram-lhe que não havia dúvidas: o beque viera de Cádis, de uma pequena embarcação usada não por comerciantes, mas por pescadores. Entusiasmado, decidiu percorrer a mesma via que estes supostos pescadores teriam percorrido até a costa oriental de África. Partiu do Egipto para Ocidente. Ao chegar a Cádis, ganhara comerciando o suficiente para armar, às suas custas, uma flotilha composta por "uma grande nave e duas embarcações menores do tipo usado pelos piratas". Meteu a bordo médicos, músicos, artistas, bailarinos e bailarinas, e rumou a sul, ao longo da costa africana, impelido por bons e "constantes ventos ocidentais".

A história de Eudoxio é reforçada por uma fonte independente. Trata-se de Plínio, que descreve que navios romanos enviados num reconhecimento em redor da Península Arábica, teriam encontrado elementos de embarcações ibéricas, o que teria levado Roma a ponderar o lançamento de uma expedição de circum-navegação ao continente. A morte de Gaio César no ano de 4 d.C. teria feito abortar este ambicioso projecto.

DESCOBERTA DA ILHA DA MADEIRA POR MARINHEIROS GADITANOS

Diodoro Sículo narra que alguns marinheiros de Gades, ao navegarem pela costa africana, foram arrastados, durante alguns dias, para o largo até avistarem uma grande ilha, onde desembarcaram (81).

Os navegadores exploraram a ilha concluindo que tinha um clima muito suave e um solo extremamente fértil; eram poucas as terras chãs, mas as colinas e montanhas eram muito ricas de árvores valiosas, tanto aromáticas como para construção. Era percorrida por rios navegáveis, sendo possível encontrar, por toda a parte, fontes de óptima água doce.

Por alguma ignorada via, os Etruscos vieram a saber desta descoberta. Na altura o poderio naval Etrusco não conhecia rival, e esse povo terá então concebido - segundo Diodoro Siculo - o projecto de estabelecer aí uma colónia. Cartago, contudo, tudo fez para frustar o projecto deste seu aliado, conseguindo efectivamente que este nunca chegasse a ser concretizado.

Na narrativa um único facto não concorda com a descrição da ilha da Madeira é a referência a rios navegáveis, que é sabido nunca terem existirem nesta ilha. Talvez a explicação para esta incoerência se deva a quer Diodoro, quer ao facto de o pseudo-aristotélico terem escrito muito tempo depois dos acontecimentos narrados, que devemos situar antes de 474 a.C.; isto é, antes da derrota naval de Cuma, da qual a marinha etrusca nunca mais se recompôs. Mas, e apesar do seu desejo inicial, Cartago não chegou a colonizar a ilha, limitando-se a proibir aos seus cidadãos a migração para esse local paradisíaco, reservando-a para um possível futuro êxodo.

Outra fonte, desta vez a biografia de Sertorio, escrita por Plutarco, relata que os marinheiros gaditanos se ofereceram a Sertorio para o levar para um local em pleno Atlântico onde existiam duas ilhas muito férteis e de clima muito suave. Plutarco chama-lhes "Ilhas Afortunadas".