HESPÉRIDES

A primeira referência às Hespérides surge na "Teogonia" de Hesíodo. Aqui se diz que as Hespérides, filhas da Noite, guardavam o seu jardim no extremo ocidental do mundo, onde defendiam as maçãs de ouro que Hércules viria depois a recolher.

Plinio e Solino (43) escreviam que dois somente tinham sido os heróis capazes de chegar a esses extremos do mundo conhecido: Hércules, que havia chegado ao Jardim das Hespérides, e Perseu, que havia estado nas Górgades, onde havia morto a Medusa, a única mortal entre as Górgonas. Diodoro Sículo, na segunda metade do século I a.C., referia que as Amazonas viviam numa das Hespérides e que aí haviam combatido e vencido as Górgones.

A ilha, ou ilhas, também são registadas por Santo Isidoro de Sevilha, por ele considerada como sendo povoadas de monstros, à semelhança das Górgades.

Na "Africae Tabula Nova" do "Theatrum" de Ortelius (33) sobre a Ilha de Cabo Verde encontra-se a seguinte legenda: "Insule Cap Viridis/olim Gorgades sive/ hesperides". Esta legenda não constitui caso único uma vez que a partir daqui esta associação surge também noutras cartas (34).

Na "Historia general y natural de las Indias" de Oviedo, cuja primeira parte foi dada à estampa em 1535 (35), defendia no seu capítulo III que as Índias descobertas por Colombo fossem já conhecidas sob o nome de Hespérides, e que este nome derivara daquele de Espero, antigo rei da Hispânia. Ora as intenções de Oviedo era óbviamente políticas, na tentativa de afirmar os direitos de soberania da Espanha sobre os territórios recentemente descobertos e que eram ameaçados pela presença portuguesa em águas próximas. Oviedo escrevia que Colombo não poderia ter concebido uma empresa tão gigantesca sobre bases puramente empíricas, mas que devia já saber onde as terras americanas se encontravam (36). Neste seu raciocínio Oviedo buscava as suas bases no "De mirandis in natura auditis".

No "De mirandis" conta-se a viagem de alguns navegadores cartagineses que, para além, das Colunas de Hercules encontraram uma ilha maravilhosa; uma ilha de que mais tarde se teria perdido o rasto, porque se havia estabelecido a pena de morte a todos que a procurassem (37). É aqui que Oviedo diz tratar-se esta ilha das miticas "Hespérides",mais tarde descobertas por Colombo. Continuando o seu raciocínio, Oviedo recorda que Isidoro de Sevilha refere que era costume dar aos lugares descobertos o nome daquele que os havia descoberto e conquistado, e assim que Oviedo conclui que o nome das "Hespérides" derivara de Espero.

O raciocínio de Oviedo complica-se depois, porque para demonstrar a sua teoria tem que provar que as "Hesperides" nada tem a ver com as Canárias ou as ilhas de Cabo Verde. Por isso identifica o arquipélago de Cabo Verde com as Górgades, das quais, segundo informavam Plínio e Solino, se podia chegar as Hespérides após quarenta dias de viagem, data que efectivamente coincide com a duração média da travessia atlântica de Quinhentos (39). Também Barros, identifica Cabo Verde com as Hespérides, embora a semelhança a Ascânio Sforza, confunda também, noutro parte dos seus escritos, o arquipélago com as "Ilhas Afortunadas" (42).

Francisco de Cisneros tinha enviado (segundo Ilaria Luzzana Caraci, provávelmente em 1497) escrevia ao Rei Católico uma carta, na qual dizia: "las islas que agora nuevamente son falladas sabia vuestra Alteza que non son en Yndia, sinon en el mar Oceano Atlântico Ethiopico, e son llamados Hesperides e Hesperion ceras; las cuales Hirta e Hanon, capitan fosse anche Colombo".

Na "Cosmographia Universalis" de Munster, citado por Las Casas, identifica-se também as Ilhas de Cabo Verde com as Hespérides.

Raffaele Maffei escreve que os soberanos portugueses tinham enviado os seus navios "in Hesperio mari ad Aethiopes Hesperios" e tinham encontrado em Cabo Verde as "insulas fortunatorum".

Na carta de África datada de 1569 o "Sinus Hesperius" coexiste com as "Gorgades Insulae", as quais na posição errada mas com o desenho correcto, indicam, segundo Ilaria C. Caraci, as Ilhas de Cabo Verde.

Em finais de quatrocentos e inícios de Quinhentos era comum a identificação de Cabo Verde com as Hespérides. Muito embora Allonso de Madrigal tenha preferido dar essa designação às Canárias e Colombo se incline a confundir o arquipélago Cabo Verdiano com as Górgades, estes dois autores movem-se contra o espírito geral.