AFUNDAMENTO DE TERRAS CABO VERDIANAS OU CANARINAS

Os Açores são ilhas inteiramente vulcânicas, e geológicamente nada indica ter havido alguma vez uma ligação por terra com a América ou com a Europa. Por outro lado, o professor Schuchert observa que cinco das ilhas de Cabo Verde e três das Canárias possuem formações rochosas bastante semelhantes às porções mais próximas do continente africano, também as plantas e animais destas ilhas possuem certas afinidades com espécies Mediterrânicas terciárias, o que parece indicar que, em tempos Terciários, existiu uma ligação entre estas ilhas e o continente africano que depois se terá afundado. (45) Esta tese foi reforçada mais tarde pelo autor espanhol L. F. Navarro (48).

Louis Germain, consolidou a tese de Schuchert com argumentos do âmbito zoológico. Estudando os moluscos dos Açores, Madeira, Canárias e Cabo Verde concluiu pela sua origem comum. Encontrou algumas espécies ainda hoje existentes nos Açores e nas Canárias e encontradas em fósseis em rochas Plistocénicas portuguesas. Para o autor, a ligação entre estas parcelas de terra oceânica e o continente dataria assim dos tempos plistocénicos. (46)

O Dr. Scharff tem ainda uma opinião mais revolucionária: Para este investigador, estas ilhas estariam ainda ligadas ao continente europeu nos finais da era Plistocénica, numa época em que o homem fizera já a sua aparição na Europa e em que não era impossível que as tivesse alcançado a pé, por terra. (47). Outra evidência notada por este autor refere que os Açores, reportados então como comuns nessas ilhas, se alimentam de pequenos mamíferos, os quais só podem ter chegados ao arquipélago açoriano por via terrestre, e de facto é possível associar a algumas ilhas do grupo açoriano nomes como "Ilha dos Coelhos" (Li Conigi) ou "Ilha das Cabras" (Capraria). Outros nomes, referidos em diversos mapas do século XV são igualmente interessantes: Nestes a ilha de Santa Maria aparece como "Louo", "Lovo" ou "Luovo" (lobo). Por outro lado, o nome da ilha do Corvo reforça ainda esta tese, uma vez que a atribuição deste nome se deveu particularmente a abundância de corvos marinhos nesta ilha, algo de semelhante pode ter sucedido na atribuição do nome a estas ilhas. também a Ilha do Pico era inicialmente conhecida como "Ilha das Pombas", ainda hoje aí presentes. Não é impossível que visitantes fenícios, cartagineses, italianos ou portugueses tenham levado para estas ilhas animais domésticos para lhes servirem de alimento em futuras escalas, mas é de todo improvável que tenham feito o mesmo com lobos, assim e admitindo para "Louo" a mesma origem da denominação das outras ilhas teríamos forçosamente que admitir uma ligação terrestre com o continente.

Termier relata que num ponto a 500 milhas a norte dos Açores e a uma profundidade de 1.700 braças, quando decorria uma operação de lançamento de um cabo submarino o navio trouxe até a superfície, durante vários dias, pedaços de rocha que recebem na ciência geológica a designação de "TACHYLYTES". Ora, estas rochas, segundo o autor, só se formam quando a lava que as compoem solidifica à superfície. Consequentemente, estas rochas indicariam que uma extensa área do oceano Atlântico já esteve emersa. Termier julgava que a região a norte dos Açores e que talvez mesmo toda a região do arquipélago já tenha estado emersa. Contudo, o argumento de Termier (46) foi atacado por Schuchardt, este investigador considerou que as "TACHYLYTES" se formam não só em condições de pressão atmosférica, mas também quando o arrefecimento é mais brutal. Caí assim por terra a teoria de Termier.

A instabilidade geológica das regiões submersas ao largo dos Açores é bem conhecida. Além do fenómeno vulcânico bem conhecido do chamado "Vulcão dos Capuchinhos", são conhecidos outros exemplos de convulsões geológicas que terão trazido até à superfície regiões antes submersas. Babcock refere que a tripulação de um navio da marinha de guerra britânica observou uma ilha que surgira subitamente das profundezas oceânicas permanecendo na superfície por vários dias. Fenómeno inverso terá também ocorrido na Ilha das Flores onde um pedaço significativo de um penhasco se afundou, provocando uma grande onda que terá causado algumas mortes na Ilha do Corvo. Além do mais, a própria Ilha do Corvo surge nos mapas do século XIV e do XV como maior que a das Flores (Li Conigi), o que actualmente está longe de corresponder a verdade. Não é de todo impossível que essa diferença se explique pela submersão de parte da sua área inicial.

Vestígios destes territórios recentemente afundados parecem ser referidos no Périplo de Scylax de Caryanda, o qual afirma que a doze dias de navegação das Colunas de Hercules se situa a ilha de Cerne, onde existiriam baixios e bancos de alga que dificultariam a navegação. (50) Por outro lado, o Périplo de Hanão menciona baixios, escolhos e outros perigos, o que confere também com a "Orla Marítima" de Rufus Festus Avienus. Também Aristóteles, na sua "Meteorologica" afirma que o mar para além das Colunas de Hércules era lodoso e pleno de bancos de areia.

Supondo que a teoria da submersão de territórios Atlânticos explica a menção a, pelo menos algumas, das ilhas imaginárias atlânticas, importa mencionar os pontos do Atlântico que mais próximo estão da superficie, segundo o trabalho desenvolvido por Sir John Murray:

"Another remarkable feature of the North Atlantic is the series of submerged cones or oceanic shoals made known off the Spanish peninsula, of which we may mention: the "Coral Patch" in lat. 34o 57' N., long. 11o 57' W, covered by 302 fathoms; the "Dacia Bank" in lat. 31o 9' N. long. 13o 34' W. covered by 47 fathoms; the "Seine Bank" in lat. 33o 47' N., long. 14o 1' W., covered by 81

fathoms; the "Concepcion Bank" in lat. 30o N. and long. 13o W., covered by 88 fathoms; the "Josephine Bank" in lat. 37o N., long. 14o W., covered by 82 fathoms; the "Gettysburg Bank" in lat. 36o N, long. 12 W., covered by 34 fathoms." (49)